Segunda Feira
Feira Internacional de Lisboa
Dezembro 2007



A ArteLisboa teve o mérito de pôr a cidade a mexer durante a semana em que decorreu. Não por mérito próprio, mas pela coincidência de datas, aniversários, festas, prémios, inaugurações e derivados que aconteceram em simultâneo. A feira teve uma inauguração muito apagada, onde apesar de todas as comissões de honra e apadrinhamentos mais ou menos mediáticos, pouco ou nada aconteceu (não fotografei a Paula Bobone...). A ArteLisboa é uma feira local e envergonhada e não é por ter meia dúzia de galerias espanholas e brasileiras que fica com mais salero ou lhe saí o samba do pé. Uns fazem o InterRail, outros vão a Badajoz comprar caramelos... Apesar dos balões a assinalar um novo prémio de aquisição (muito remediado...) e de um novo jornal diário com um design inspirado num missal de catequese, faltou espectáculo, faltou circo, faltou o risco de todos os envolvidos.

Na 4ª feira, dia da inauguração, embriagado no optimismo latente dos três últimos dias, cheguei a uma FIL de corredores vazios. Desculpas com as horas, com o trânsito; esperança de que a coisa se componha. Apesar da tranquilidade que nos dá o argumento da pequenez nacional, acredito que existem mais e maiores coleccionadores, mais curadores e directores de museus, mais teóricos e críticos, mais agentes culturais e mais pessoas interessadas em arte contemporânea que aqueles que se viram na feira. Acredito igualmente que existem mais e melhores trabalhos que os apresentados nas paredes das galerias, todas muito arrumadas, feitas ao olhar fácil de quem colecciona de acordo com a cor do sofá. O jogo seguro continua a ser o mote do display expositivo galerístico e, se noutras edições se assistia a um gap entre as apresentações das galerias com maior, ou menor, circulação internacional, nesta edição, a formatação foi norma. O aspecto geral melhorou, mas a sensação de déjà vu torna a visita por derivações artísticas e trabalhos feitos à medida monótona e aborrecida. Excepções também as há, como a galeria 111, com um stand a dar relevo ao actual investimento na jovem geração de artistas da galeria.

Na nova área de Projectos, Isabel Carlos, comissária convidada, fez o que pôde com as propostas que lhe chegaram às mãos. Ao contrário do que se possa (e interessa fazer) pensar, as escolhas da comissária são condicionadas às propostas das galerias para espaços pagos, resultando isto, nos piores casos, num prolongamento do stand da galeria, ao invés da aposta na apresentação de “propostas individuais que, pelo seu carácter experimental, exigiam um espaço de exposição próprio”, como se afirma no guia/roteiro da feira.

Escrevo este texto na segunda-feira, último dia da ArteLisboa, com a ressaca própria de uma semana repleta de acontecimentos, copos, conversas e divergências de opiniões. Podia ser uma ressaca derivada do excesso, mas acho que se deve apenas a misturas mal feitas.