Batatinhas com Enguias
Vera Cortês - Art agency
Junho 2007



O ciclo de jantares temáticos promovido pela Vera Cortês-Agência de Arte, O Banquete, comissariado por Paulo Reis, pretendia ser uma celebração gastronómica de várias épocas, numa piscadela de olho à História da Arte; ocidental, entenda-se. Ao Banquete Antiguidade, no qual estive presente, sucederam-se o Barroco, o Impressionista e o Contemporâneo, associados à ideia de festim pagão -- allure, spleen e fusão, num texto do comissário -- um cardápio de artistas que ao longo dos séculos se debruçaram sobre o tema.

Na antecâmara, água, vinho e rosas. Na sala, velas e candeias. Na sala de reuniões, transformada em cozinha, os artistas Hugo Brito, João Tabarra e o comissário, vestidos a preceito, ultimavam o banquete. A ementa aguçava o apetite e a fantasia dos convidados. Deliciei-me com as Dulcis Sardinae Refertus, a Patina Quotidiana e a Scribilita. Tive algum receio dos In Ovis Apalis, mas as Lvcaniae sabiam àquilo que eram. Revivi pesadelos de infância com as Anguilii Per Radix Quod Crocus e fiquei mais tranquilo com o Aliter Baedinam Excaldatam.

Depois de bom vinho e de uma agradável conversa com os meus companheiros de mesa, ainda tive estômago para ouvir alguém dizer: “Um homem é infeliz quando trabalha contrariado, não tem as mulheres que quer e, ainda por cima, não é rico... O que não é o meu caso!”. Vomere Post Cenam? Ou, simplesmente, um gesto de Convomere Mensas Hostium?

Fui para este banquete francamente agradado com a ideia de uma inauguração em que o prato a servir era, literalmente, comida. A minha ilusão desfez-se quando percebi que, numa das salas, era exibido o vídeo The Hunter (1992), de Christian Jankoswki. Até gosto deste vídeo, não gostei foi da ideia de que um evento, com um nome tão sugestivo como O Banquete, necessitasse de se escudar na apresentação física de trabalhos artísticos, numa espécie de busca de legitimação, retirando o protagonismo aos artistas convidados a preparar o jantar. Afinal não era só comida. Para cada evento, uma obra de arte: A lebre (2003), de Lygia Pape, Livro de carne (1979), de Artur Barrio e Stillleben (2007), de Susanne Themlitz foram os seguintes. A 20 de Junho, uma finissage do projecto, com mostra conjunta das peças.



























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