Casa & Jardim
Palácio de Belém
Novembro 2007



Há dias assim, e o 5 de Outubro é um deles. Ainda bem que vamos tendo datas para comemorar, se assim não fosse, acabar-se-iam de vez com as exposições de arte contemporânea (artes decorativas?) patrocinadas pelo erário público. A arte contemporânea fica bem! Claro que melhor a uns do que a outros! A comemoração da Implantação da República serviu de mote para uma exposição “ que permanece alheia a quaisquer ideologias políticas”, que se desenha “como um desejo de celebração de uma data” e que por sua vez se “constitui como um pretexto para convidar todos aos jardins do Palácio de Belém”. Apesar de salvaguardar as boas intenções das declarações da comissária Filipa Oliveira, não acredito que uma exposição, encomenda da presidência, para os jardins do palácio presidencial, para assinalar um feriado que celebra a substituição de um regime monárquico por um republicano, possa ser desprovida e alheia de/a significados e ideologias políticas. Claro que tudo depende da percepção do espectador (ou da sua deturpação). Mais cego que quem não vê...

Acreditemos então na inocência do evento e constatemos, em consequência desse facto, que a decoração do jardim tanto poderia ter sido feita por estes artistas como por outros, ou sem artistas, se tal sugerissem os ditames da moda, no sentido mais básico da palavra - do que fica bem mas passa depressa. Acreditemos que à esmagadora maioria da multidão (sim, era mesmo uma multidão de burocratas, diplomatas e outros atas) que serpenteou pelos jardins atrás do casal presidencial, tanto se lhes dava a arte como os buxos bem aparados - e toca a andar que nunca mais chega a hora do croquete! - e tudo pareceria muito pobre. Se para além de se encomendar exposições, se pudesse mandar vir um público aparentemente interessado, as coisas ganhariam algum sentido. O simulacro seria melhor!

Acreditemos ainda que não existiu aproveitamento político e que o convite da casa presidencial é inteiramente desprovido de interesse pelo prestígio que a arte contemporânea representa actualmente... Alguém acredita?

O corpo de seguranças abrilhantou com o excesso de zelo e a comunicação social estava mais preocupada com hipotéticas gaffes do que com questões mais conceptuais ou meramente informativas. Os artistas (sossegadinhos!) aguardavam junto às peças a sua vez de proferir algumas ditosas palavras sobre o seu trabalho a quem os quisesse ouvir. A comitiva ia mostrando o interesse possível. Ainda havia uma outra exposição de um concurso de medalhinhas comemorativas e um concerto do duo “Ela não é francesa ele não é espanhol” (belo nome para estas questões dos orgulhos e dos feriados nacionais) com lasers na fachada e futebol na televisão que se via através da janela. Finalmente bebo uns copos na varanda e as salas do palácio parecem-me pequenas. Tudo me parece pequeno. Mas quem tem de gostar é o povo. O jardim está aberto. Faça o favor de entrar.

























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