Sanção & Dalila
Museu Nacional de Arte Antiga
Setembro 2007





O Verão é uma estação tão silly para a arte como para outra actividade qualquer. O calor inibe a produção, as galerias fecham para banhos, as pessoas dispersam absortas nas suas idiossicrasias veraneantes. Uma vigília, seja de apoio, por solidariedade ou de protesto, torna-se tão apetecível para uma reunião social como outro evento qualquer. Façam-se mais, junte-se-lhes umas causas, umas exonerações, umas figuras mediáticas e uma sazonal falta de assunto e temos um manjar para a imprensa. Onde há imprensa, há público e onde há público, há aproveitamento político.

Falava-se q.b. de praia, de recondução ao cargo, de férias, de comissão de serviço, de afastamento da direcção e de viagens. Algumas promessas de festas no ar! Para quem passava na rua das Janelas Verdes parecia que estava a acontecer alguma coisa. O que é sempre bom! pois já se sabe que a arte não é o melhor produto de marketing para os portugueses.

Dalila Rodrigues, a visada pela solidariedade da vigília, que sempre nos brindou com umas festas sumptuosas, merecia melhor. Faltavam cartazes, slogans, um beberete, trapezistas e alguns DJ’s. A carga dramática fica sempre bem a uma vigília e cai muito melhor nas televisões. Apesar de poucos (ainda ninguém se lembrou de uma agência de figurantes especializados ou de os mandar vir de autocarro com promessa de almoço pago...), existiam vigilantes para todos os gostos. Uma panóplia suficientemente ampla para tornar difícil a escolha de com quem aparecer. Havia alguns que acreditavam na causa e outros que não, amigos da ex-directora (uns mais e outros menos), adictos do flash e fotógrafos, políticos da oposição, cães e arrumadores de carros, vizinhos curiosos ou de passagem, pessoas com saudades mais de umas que das outras, turistas ocasionais e a tempo inteiro, nostálgicos de outras vigílias e pessoas bem intencionadas. O look variava entre a gravata e a chanata, usada na versão com areia ou sem, e a obrigatoriedade do negro na indumentária típica de uma vigília não se fez cumprir, afinal o que contam são as boas intenções. No seu todo, um grupo coeso que, há hora certa, aplaudiu entusiasticamente, gritando por Da-Li-La. Medo que ainda houvesse alguém que não soubesse o nome da homenageada?

A ex-libris-directora não desapontou. Saiu pela porta da frente como quem vai à rua tentar perceber o porquê do frissom. Mostrou-se surpreendida e emocionada com tantas demonstrações de apreço. O timing estava certo, o passo cadenciado e a toilette bastante apropriada para um fim de tarde. A rampa em frente ao Museu de Arte Antiga parecia um palco. Se fosse tudo combinado, não teria sido melhor. Sócrates não sabia da festa e Cavaco levantou ainda mais as sobrancelhas de espanto. Depois de aplaudida, abraçada e ovacionada com Forças! e Vivas!, falou pouco, entrou no carro e partiu. Aposto que no rádio do carro, Tom Jones cantava “My, my, my, delilah! Why, why, why, delilah!...”

























Sem comentários:

Enviar um comentário