Filhos da Madrugada
Museu do Neo-Realismo
Dezembro 2007



Foi finalmente inaugurado o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. Haja sossego nas consciências mais à direita e sintam-se vingadas as mais esquerdinas. A rua Alves Redol foi cortada ao trânsito dada a afluência de público e, apercebi-me depois, para permitir o acesso e retirada rápidos da vasta comitiva presidencial. Na rua, demasiados polícias para um museu tão pequeno ouviam nos altifalantes a ministra da cultura dizer que "foi um movimento que se soube afirmar num clima de censura férrea que foi, por vezes, incapaz de perceber o alcance de certas criações". Paradoxal?

Já o povo, que aguardou pacientemente pelo fim dos clichés discursivos, queria era ver o presidente, uma prova de que o poder simbólico subjaz a todas as divergências, sejam elas estéticas ou políticas. Nas palavras de uma senhora ao meu lado: “Ele ainda é meu primo! Eu também sou Silva!”

Com títulos tão sugestivos como “Batalha pelo Conteúdo” e “Uma arte do povo pelo povo e para o povo” as exposições desenvolviam-se, didáticas, pelos vários pisos do museu. Em simultâneo, os actores da Inestética - companhia teatral, numa formulação um tanto básica e ingénua, através de exercícios de ginástica, pretendiam estabelecer uma relação entre a representação do corpo dos trabalhadores no neo-realismo e o body building dos ginásios. Tanto corpo, tanto nú, já me cheira a suor... Perto da entrada, numa sala demasiado discreta, uma exposição de João Tabarra.

Mais tarde, sentado numa esplanada ao lado da estátua do Alves Redol, interroguei-me sobre o facto de também ele estar nú de boina na cabeça. Duas crianças posavam entre as pernas para a objectiva da mãe. Que obsessão é esta do neo-realismo com o corpo? Segundo as palavras do autor da escultura, Lagoa Henrinques, Alves Redol está nú porque para o mestre do neo-realismo só contava a verdade nua e crua. Ficou com a boina que é a coroa do artista. Bonito.



























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