A Super Encenação
Lançamento do livro “Vasco Araújo”, Teatro São Carlos
Maio 2007



Conheço o Vasco Araújo desde o tempo em que lhe chamavam o Herman José da arte contemporânea. Na altura era uma comparação depreciativa, sarcástica, baseada num preconceito em relação a tudo o que não era angustiantemente sério e definitivamente não era o caso das suas primeiras divas. Desta comparação resultam algumas verdades. É o próprio Herman que afirma que em Portugal todos o conhecem (ao Vasco, nem todos!), mas que chega a Nova Iorque e ninguém sabe quem ele é (do Vasco, alguns vão sabendo!).

Parece-me agora, passados alguns anos e muito trabalho, que a comparação se devia mais ao vislumbre de um sucesso potencial (inveje-se o curriculum, do Vasco...) do que ao desdém pelo travestismo. Após o reconhecimento internacional até os santos da casa fazem milagres e aqui o factor trágico-cómico português volta a ganhar relevância.

No passado dia 5 de Fevereiro, no teatro São Carlos, as luzes da ribalta viraram-se para o livro “Vasco Araújo” sobre a obra do artista homónimo. A esta apresentação feita por Alexandre Melo, seguiu-se uma outra, em Madrid, por ocasião do ARCO, dirigida por Maria do Corral, não fosse ela a diva curadora espanhola. Com design de Arne Kaiser, é o terceiro de uma colecção co-editada pela Corda Seca e pela ADIAC Portugal (e aqui, tal como Alexandre Melo durante a apresentação, tenho de me socorrer da cábula...) - Associação para a Difusão Internacional de Arte Contemporânea (se juntarmos as iniciais, temos a sigla).

O texto de John Welchman, historiador de arte inglês a residir em Los Angeles, pretende ser uma leitura abrangente da obra do artista. Objectivo alcançado, já que serão precisas várias penadas para conseguir destrinçar quer o texto, quer as 54 notas bibliográficas feitas ao longo do livro.

Marquei encontro com o Vasco Araújo meia-hora antes no salão nobre do teatro onde ia decorrer a apresentação. Nada mais ingénuo. Na bilheteira disseram-me logo que as ordens eram para não deixar ninguém entrar. Sempre os mesmos problemas de domínio e autoridade. Ok, posso entrar mas tenho de ser escoltado. Eu próprio tenho de chamar um segurança porque a menina do guichet não sabe deles. Lá vou eu escada acima, no palco ainda há ensaios. Pergunto-me se fará parte daquilo que me espera.

O salão nobre encheu, algo que achei inédito numa apresentação de livro dum artista a que insistem em chamar emergente. Será por oposição a submergente?

Sempre associei casacos de peles a estreias no São Carlos e eles lá estavam, creio que para não me decepcionar. A longa dissertação com que Alexandre Melo abrilhantou a apresentação abriu de tal maneira os apetites (sem sentido figurado...) que quando me aproximei das mesas já não havia canapés. Uns copos de vinho mais à frente, a conversa corre mais solta. Os cumprimentos da praxe estão feitos. As palmas foram batidas. Os autógrafos estão dados. Os lustres apagam-se sem aviso, prevenindo os retardatários.

Cá fora, enquanto as últimas conversas se dividem entre despedidas, olá-adeus de quem ainda não se tinha visto, combinações e negociatas, a vendedora da “Cais” tenta a sua sorte. Peço para lhe tirar uma fotografia ao chapéu. Diz-me que em troca tenho de lhe comprar uma revista. Sem meias conversas. Por fim consente. Será o apelo do flash uma marca da igualdade social?

No final a dúvida subsiste. Quem divulga quem?


























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