Quem Dá Mais
Cristina Guerra Contemporary Art
Outubro 2007



"For Sale" é o nome da exposição comissariada por Jens Hoffmann que apresenta na galeria uma trintena de artistas internacionais. Partindo de uma ideia simples em torno da noção de mercado artístico e da relação cada vez mais estreita entre curadores e galerias, o curador-autor convidou os artistas a desenvolverem trabalhos que reflectissem sobre o seu status enquanto objectos de venda a ser mostrados num espaço comercial. O resultado, formal e conceptual, é magnífico e a exposição corre o sério risco de se tornar uma das propostas mais interessantes nesta frugal rentrée artística nacional.

Se a proposta é simples, a solução apresenta-se controversa. Ao ser apresentada como uma instalação que só pode ser vendida como um todo, a exposição levanta sérios problemas à formatada compreensão dos papéis dos diversos agentes artísticos e da sua actuação perante o mercado. Dispositivo anti-coleccionadores-de-cromos, as tabelas de cada obra ostentam o seu preço, afinal uma informação tão importante como outra qualquer nos dias que correm, quando a venda a retalho é depois boicotada pelo próprio conceito da exposição.

A polémica premissa de "For Sale" fez com que a discussão se alargasse ao blog do site www.artworldsalon.com. Num artigo sobre a exposição, Marc Spiegler escreve: “Apesar de tudo, se a história do mercado da arte nos ensinou alguma coisa, foi que é infinitamente inventivo e surpreendente quando confrontado com tentativas de obstrução e logro.”

Vários posts ao artigo ajudam a problematizar as questões propostas pela exposição. Jan Christensen diz: “Mesmo que a exposição se venda (como um todo), representará tanto o poder do respectivo comprador como a importância da sua afirmação crítica.” Steven Kaplan diz: “ O que me incomoda no conceito de "For Sale" é a sua modéstia conceptual. Ela esmaga a linha entre o brilho e o oportunismo. Se não for vendida, cumpre o seu propósito de obstrução ao negócio habitual e emerge todos os envolvidos - curador, galeria, artistas - numa aura de experimentação artística altruísta. Mas se for adquirida por um mega-coleccionador ou instituição, não só representará um enorme êxito comercial, como também um comentário elucidativo acerca das actuais dinâmicas de mercado.” Sara Jo Romero diz: “ Tendo sido enxotado por galeristas de todo o mundo e colocado em listas de espera intermináveis para poder comprar artistas de topo, um coleccionador endinheirado vê na compra desta exposição a oportunidade ambicionada para ser admitido (no mundo da arte). Imaginem a publicidade! Listas do top de coleccionadores nas revistas! Passagem ao topo das listas de espera! Convites para festas fabulosas e estatuto de mecenas!” Greg Allen diz: “ Parece-me que a exposição já é um sucesso, quer por estimular um debate sobre ideias de propriedade e de autoria individual, quer por questionar os mecanismos relacionais entre coleccionador e mercado.”

Eu digo: “Assim sim. Quem vai à Guerra dá e leva.”



























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